Frase do dia
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quinta-feira, 18 de março de 2010

O ombro amigo

De que matéria e substância é feito um amigo? Como pode um estranho equiparar-se a nosso pai e a nossa mãe, até mesmo sobrepujá-los em lealdade e dedicação? Que amálgama une um amigo a outro? Em que mistura de elementos se alicerça afinal uma amizade? Não há dúvida de que a amizade suplanta o amor por não correr o risco de ser efêmera.

É essa perenidade que diferencia a amizade do amor e a faz mais nobre que o amor.
Quando cessarem todos os recursos, quando ficar de prontidão a voz dos necrológios para gritar que você morreu, ainda restará na última cidadela de proteção um amigo. O amigo é o mais sólido, o mais imarcescível abrigo contra a solidão devastadora.
O grande óbice ao desespero é um amigo, o único obstáculo ao suicídio é um amigo.

Por que ele é amigo, não se saberia dizer. É amigo como um cão fiel, sem motivo, trata-se de uma simples escolha. Há pessoas que nasceram para ser amigos. É da sua natureza ajudar, amparar, estar ao lado, construir, velar, mourejar em pura amizade.
O amor também se diferencia da amizade porque esta é absolutamente desinteressada. O amigo ajuda o outro amigo porque esta é a sua missão, a de dar sentido à vida do outro.

No amor, um dos amantes ama o outro porque a felicidade do outro fá-lo lucrar. Na amizade, um amigo ajuda o outro sem lucrar nada, apenas para ajudar, amparar, diligenciar. Mil vezes, se eu tiver de escolher, preferiria ter um grande amigo a um grande amor. E, se eu tiver um grande amor, ele sobreviverá aos tempos e se tornará perpétuo só no caso de que ele se transforme em uma grande amizade. O amor é temporal, a amizade é eterna.

Se me faltarem todas as forças, se todos os elementos que me mantêm erguido soçobrarem, ainda assim permaneço em vida e prossegue acesa no meu coração a chama da esperança, se um amigo existir. A vida só pode cessar quando faltar um amigo. Um amigo é infinitamente mais útil que a riqueza, o luxo, a fartura e a ostentação. O maior tesouro da vida é um amigo. A maior e mais importante desgraça é a falta de um amigo.

Cultive um amigo, se é que se possa cultivá-lo, se é que essa atração que o move não seja simplesmente natural e espontânea. Agradeça ao seu amigo, embora ele exista independentemente de qualquer agradecimento ou homenagem. Quando se dedica, não está em busca de gratidão, ele só é amigo porque é da sua vocação telúrica a amizade.
Procure saber se você tem, no seu círculo de amizades, um amigo. Se o tiver, só assim a vida terá sentido.

© Paulo Sant’Ana

sexta-feira, 12 de março de 2010

Uma história de amor

John Blanchard levantou do banco, endireitando a jaqueta de seu uniforme e observou as pessoas fazendo seu caminho através da Grand Central Station. Ele procurou pela garota cujo coração ele conhecia mas o rosto não; a garota com a rosa. Seu interesse por ela havia começado trinta meses antes, numa livraria da Flórida.

Tirando um livro da prateleira, ele se pegou intrigado, não com as palavras do livro, mas com as notas feitas a lápis nas margens. A escrita suave refletia uma alma profunda e uma mente cheia de brilho. Na frente do livro, ele descobriu o nome do primeiro proprietário: Srta. Hollis Maynell.

Com tempo e esforço ele localizou seu endereço. Ela vivia em New York City. Ele escreveu a ela uma carta, apresentando-se e convidando-a a corresponder-se com ele. Na semana seguinte ele embarcou num navio para servir na II Guerra Mundial.

Durante o ano seguinte, mês a mês eles desenvolveram o conhecimento um do outro através de suas cartas. Cada carta era uma semente caindo num coração fértil. Um romance de companheirismo.

Blanchard pediu uma fotografia, mas ela recusou. Ela queria que ele realmente se importasse com ela, não importando como ela era, ou sua aparência.

Quando finalmente chegou o dia em que ele retornou da Europa, eles marcaram seu primeiro encontro - 7:00 da noite na Grand Central Station em New York.

Você me reconhecerá, ela escreveu, pela rosa vermelha que estarei usando na lapela.

Então, às 7:00 ele estava na estação, procurando por uma garota cujo coração ele amava, mas cuja face ele nunca havia visto. Vou deixar o Sr.Blanchard dizer-lhe o que aconteceu:

Uma jovem aproximou-se de mim. Sua figura era alta e magra. Seus cabelos loiros caíam delicadamente sobre os seus ombros, seus olhos eram verdes como água. Sua boca era pequena e seus lábios carnudos, e seu queixo tinha uma firmeza delicada. Seu traje verde pálido era como se a primavera tivesse chegado.

Eu me dirigi a ela, inteiramente esquecido de perceber que ela não estava usando uma rosa. Como eu me movi em sua direção, um pequeno, provocativo sorriso, curvou seus lábios. Indo para o mesmo lugar que eu marinheiro?, ela murmurou.

Quase incontrolavelmente dei um passo pra junto dela, e então eu vi Hollis Maynell. Ela estava parada quase que exatamente atrás da garota. Uma mulher já passada dos 50 anos, ela tinha seus cabelos grisalhos enrolados num coque sobre um chapéu gasto.

Ela era mais que gorducha, seus pés compactos confiavam em sapatos de saltos baixos. A garota de verde seguiu seu caminho rapidamente. Eu me senti como se tivesse sido dividido em dois, tão forte era meu desejo de segui-la e tão profunda era o desejo por aquela mulher cujo espírito verdadeiramente me acompanhara e me sustentara através de todos as minhas atribulações.

E então ela parou. Sua face pálida e gorducha era delicada e sensível, seus olhos cinzas tinham um calor e simpatia cintilantes. Eu não hesitei. Meus dedos seguraram a pequena e gasta capa de couro azul do livro que a identificou para mim. Isto podia não ser amor, mas poderia ser algo precioso, talvez mais que amor, uma amizade pela qual eu seria para sempre cheio de gratidão.

Eu inclinei meus ombros, cumprimentei-a mostrando o livro para ela, ainda pensando, enquanto falava, na amargura do meu desapontamento. Sou o Tenente John Blanchard, e você deve ser a Srta. Maynell. Estou muito feliz que tenha podido me encontrar, Posso lhe oferecer um jantar?

O rosto da mulher abriu-se num tolerante sorriso. Eu não sei o que está acontecendo, ela respondeu, aquela jovem de vestido verde que acabou de passar me pediu para colocar esta rosa no casaco. E ela disse que se você me convidasse pra jantar, eu deveria lhe dizer que ela está esperando por você no restaurante de esquina. E ela disse que isso era um tipo de TESTE!

Não parece difícil, pra mim, compreender e admirar a sabedoria da Srta. Maynell.

A verdadeira natureza do coração de uma pessoa é vista na maneira como ela responde ao que não é atraente!!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Abraçando a Imperfeição

Quando eu ainda era um menino, ocasionalmente, minha mãe gostava de fazer um lanche, tipo café da manhã, na hora do jantar. E eu me lembro especialmente de uma noite, quando ela fez um lanche desses, depois de um dia de trabalho, muito duro.

Naquela noite longínqua, minha mãe pôs um prato de ovos, linguiça e torradas bastante queimadas, defronte ao meu pai. Eu me lembro de ter esperado um pouco, para ver se alguém notava o fato. Tudo o que meu pai fez, foi pegar a sua torrada, sorrir para minha mãe e me perguntar como tinha sido o meu dia, na escola.

Eu não me lembro do que respondi, mas me lembro de ter olhado para ele lambuzando a torrada com manteiga e geléia e engolindo cada bocado.

Quando eu deixei a mesa naquela noite, ouvi minha mãe se desculpando por haver queimado a torrada. E eu nunca esquecerei o que ele disse:

" - Amor, eu adoro torrada queimada..."

Mais tarde, naquela noite, quando fui dar um beijo de boa noite em meu pai, eu lhe perguntei se ele tinha realmente gostado da torrada queimada. Ele me envolveu em seus braços e me disse:

" - Filho, sua mãe teve hoje, um dia de trabalho muito pesado e estava realmente cansada... Além disso, uma torrada queimada não faz mal a ninguém. A vida é cheia de imperfeições e as pessoas não são perfeitas. E eu também não sou um melhor empregado, ou cozinheiro!"

O que tenho aprendido através dos anos é que saber aceitar as falhas alheias, escolhendo relevar as diferenças entre uns e outros, é uma das chaves mais importantes para criar relacionamentos saudáveis e duradouros.

Que possamos aprender a levar o bem, o mal, as partes feias de nossa vida colocando-as nas mãos de Deus . Porque afinal, ele é o único que poderá lhe dar uma relação na qual uma torrada queimada não seja um evento destruidor."

De fato, poderíamos estender esta lição para qualquer tipo de relacionamento: entre marido e mulher, pais e filhos - e com amigos.

Não ponha a chave de sua felicidade no bolso de outra pessoa, mas no seu próprio.

As pessoas sempre se esquecerão do que você lhes fez, ou do que lhes disse. Mas nunca esquecerão o modo pelo qual você as fez se sentir.

terça-feira, 9 de março de 2010

Internautas

Sobrevoadores do Mundo
Essa máquina pequena que tão simples lhe parece,
torna-o responsável por parte do que acontece.

BOATOS

Saiba filtrar as notícias que chegam a você:
Aqui você é responsável pela divulgação do Bem e do mal.

GUERRAS

Se nada pode fazer para impedi-las,
evite ouvir aqueles que alimentam o prosseguimento delas.

HOMENAGENS

Procure sempre divulgar os nomes
daqueles que tornam este mundo
um lugar melhor para se viver.

PRECONCEITOS

Lembre-se que aos olhos do Universo
todos os seres são iguais.

CORAÇÕES

Conserve a consciência de que aqueles
que se ligam virtualmente a
você são pessoas interessadas
em compartilhar sentimentos
tanto quanto você é.
Não as machuque.

LEALDADE

Procure ser merecedor da confiança
depositada em você
por aquele que nunca o viu.

DECEPÇÕES

Lembre-se que o outro não sabe
o que você espera dele.
Muitas vezes perdoe,
assim como você quer ser perdoado.

AMIZADE

Poucos vêm para esta rede
sem pensar em novas amizades.
Seja receptivo ao abraço de novos amigos.

UNIÃO

Esta, sim, é a que faz a força:
A Voz do Internauta é poderosa e deve ser usada
para o Bem de todo o Planeta.


Se Deus permitiu um meio de comunicação como este,
foi porque Ele acreditou
que você poderia cuidar bem dele.

Você é responsável por este presente vindo
diretamente do céu!

© Silvia Schmidt

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Relacionamentos

Depois de muito meditar sobre o assunto, concluí que os casamentos (relacionamentos) são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol.

Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal.

Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzche, com a qual concordo inteiramente.

Dizia ele: "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: 'Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice?'

Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.

"Scherazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme "O Império dos Sentidos".

Por isso, quando o sexo já estava morto na cama,e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites.

O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer.

Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: "Eu te amo...."

Barthes advertia: "Passada a primeira confissão, 'eu te amo' não quer dizer mais nada."É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética.

Recordo a sabedoria de Adélia Prado: "Erótica é a alma".

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola.

Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar.

O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca.

Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la.

Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre.

O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado.

Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...A bola: são nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras.

Conversar é ficar batendo sonho prá lá, sonho prá cá... Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada.

Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é Ter razão e o que se ganha é o distanciamento.Aqui, quem ganha sempre perde.

Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.

O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor...Ninguém ganha para que os dois ganhem.

E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

© Rubem Alves