Frase do dia
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domingo, 24 de abril de 2011

Venha logo

Eu tenho procurado por você faz tanto tempo... acho que tenho procurado por você por toda a minha vida.

Não sei que fim levou você, ou em que planeta se escondeu, porque eu sei que você existe e que está do mesmo jeito que eu, buscando por mim sem saber direito que existo e que estou aqui, esperando por você.

Só que de repente fiquei cansada e desisti de aceitar da vida o que ela tinha pra me oferecer, e por causa disso os últimos anos foram muito difíceis, e agora parece que acordei de repente e quando olhei em volta percebi que o mundo havia se desabitado de verdade, e as pessoas estavam cada vez com mais e mais pressa de passar e não deixar marcas e não consegui mais contato com ninguém que se aventurasse a ir além de arranhar a superfície pra procurar através daquilo que parece e não é.

Já tenho cinqüenta anos agora e ainda estou à sua procura, e se passar mais outro tanto sem você chegar juro que vou enlouquecer, e é por isso preciso que você venha logo, entende, pra gente tentar ser feliz enquanto é possível respirar, pra que a gente possa caminhar por aí dividindo alguns sonhos, e ainda que não tenha muitos eu prometo que ajudo a sonhar os seus porque nesse tempo de esperar por você nem tenho mais dado conta de ter meus próprios sonhos.

Eu sei como você é e que gosta de madrugada e de dia de sol, e também que não vai se importar se vez por outra eu falar baixinho pedindo que me dê a mão para eu poder dormir porque preciso me sentir amparada no meu sono, e que nem vai se incomodar de ser muito amado, nem se sentir desconfortável quando eu disser "eu te amo" mais do que é permitido no manual da boa moça, porque afinal não sou nem boa nem moça... sou uma mulher querendo muito dizer “eu te amo” pra você.

Quero mesmo é respirar e sentir o seu hálito quente em meu rosto, e seus dedos alisando de mansinho as rugas que se formarem em volta dos meus olhos quando eu sorrir dizendo bom dia porque sei que o dia que começar com sua cabeça no travesseiro ao lado com certeza só poderá ser bom, infinitamente melhor que os dias em que acordo e amontôo os travesseiros para que a cama não pareça assustadoramente vazia como tem parecido nestes últimos anos.

Ah, e quero rir... e rir de qualquer bobagem que seja, porque houve um tempo em que meu riso tinha um valor imensurável e fazia parte do meu charme, e eu sei que em algum lugar de mim ele ainda existe, à espera de espaço para fluir e se fazer presente... quero sair de dentro de mim sem medo de não ser aceita, nem compreendida, porque quando você conhecer a mim vai me amar do mesmo jeito que eu vou amar você. E então meu riso vai brotar de dentro de mim pra você.

Eu fico aqui pensando que você deve ter se cansado de me procurar e ficou assim que nem eu, perdido nesse marasmo, mas ainda tem jeito de você chegar porque afinal, ambos estão tanto tempo à procura um do outro mesmo, que nada melhor que nos encontremos de uma vez. Então desce desse planeta quase extinto e vê se chega pro café da tarde, mas não espere que tenha bolo de fubá na mesa porque preciso confessar a você que não sei cozinhar, nem fiar, nem bordar, nem fazer essas coisas todas que ensinaram a você que as moças prendadas faziam.

Por outro lado, tenho cá meus encantos, faço um silêncio pra lá de especial, sei caminhar macio e parecer invisível quando necessário e também adoro jornal espalhado pela casa, ainda que dividido em seções possa parecer mais civilizado. E farelos: sou doida por farelos por todos os lados e não dou a mínima se tiver roupa atirada por aí, conquanto você aqueça meus pés nas noites frias de inverno.

Pensando bem, preciso também dizer a você que nestes anos em que está demorando pra chegar adquiri alguns hábitos não muito saudáveis, como por exemplo, comer fora de hora e nunca à mesa, e de dormir tarde e acordar mais tarde ainda... mas tenho certeza que podemos ajustar nossos relógios e encostar nosso tempo de ser feliz e eu até prometo abrir mão dos farelos se você precisar dormir num lençol impecavelmente esticado; e embora odeie futebol prometo nunca perguntar que graça tem vinte e dois bonequinhos correndo atrás de uma bola porque nessa hora vou estar na cozinha vigiando o microondas estourar pipocas pra você.

Não sei por que você ainda não despencou dessa árvore onde pendurou sua desesperança, mas eu torço que você esteja escorregando dela e que caia direto nos meus braços abertos à sua espera porque aí nós vamos poder dançar descalços pela vida por um bom tempo ainda, pois o amor rejuvenesce e revigora a gente; e afinal, que importa se nossas idades somadas perfazem mais de um século se há toda uma eternidade à nossa espera?

Eu sei que você existe e que está apenas esperando que eu lance à sua praia a garrafa com o fatídico bilhete amarelado pelo tempo dizendo venha me buscar! Mas acho que você também perdeu a esperança porque tenho mandado meu navio atracar no seu porto todos os dias e você nunca está na beira da praia...

Tem outra coisa que preciso lhe contar: é que meus cabelos agora estão brancos, e eu os pinto pra disfarçar, mas daí fico pensando que não deve ter lá tanta importância porque com certeza se você tiver os seus ainda serão brancos também; e isto me faz lembrar que se por acaso você tomou cerveja demais ao longo da vida eu não vou me incomodar que isto tenha lhe dado barriga desde que você não se importe que eu não possa mais andar de mini-saia.

Ah, tem coisa à beça que quero lhe contar desse tempo de esperar por você, mas prefiro que seja baixinho no seu ouvido, porque alguns pecadinhos ditos em voz alta podem parecer maiores; por outro lado a gente pode fazer um pacto de silêncio e começar tudo outra vez, e criar um tempo novo onde sejamos apenas eu e você e mais nada.

Agora, eu acho que fotografias de netos vão acabar aparecendo de um jeito ou de outro, e nesse caso é bom que você saiba que embora avó, tenho muito da menina que você tem procurado pela vida afora. Ainda tem luzes nos meus olhos, minha boca continua macia, e eu sinto que quando você me tocar as sensações da adolescência e da primeira vez vão estar todas ali do jeito que você espera.

Olha eu aqui. Mesmo que eu não seja exatamente como você me criou em sua imaginação, quero que compreenda que passaram anos desde que você começou a me procurar. Por isso, procure enxergar além de mim mesma, através da roupa que me veste, do corpo que me cobre a alma, e descubra a mim, aquela que sou na minha essência e que tem estado todo esse tempo à sua espera.

Ah, esqueci de lhe dizer uma última coisa: pode chegar a qualquer hora, viu, porque qualquer hora é hora de chegar e você vai ser muito bem-vindo quando finalmente abrir a porta e habitar meu mundo e nossas solidões puderem se alisar até se diluírem no calor do nosso abraço e depois disto nunca mais seremos sós. E ficaremos finalmente em paz.

- Maria Tereza Albani -

segunda-feira, 28 de março de 2011

Talvez o amor

Talvez o amor seja como um local de descanso, um abrigo da tempestade
Ele existe para te oferecer conforto, ele está lá para te manter aquecido
E naqueles tempos de dificuldade quando você está sozinho,
A lembrança do amor vai te trazer para casa


Talvez o amor seja como uma janela,talvez uma porta aberta,
Ele te convida para chegar mais perto, ele quer te mostrar mais
E mesmo se você perder a si mesmo e não souber o que fazer,
A lembrança do amor vai te acompanhar


O amor para alguns é como uma nuvem, para alguns tão forte como o aço
Para alguns um modo de vida, para alguns um modo de sentir.
E alguns dizem que o amor está persistindo e alguns dizem que está desistindo
E alguns dizem que o amor é tudo e alguns dizem que não sabem...


Talvez o amor seja como o oceano, repleto de conflito, repleto de dor
Como uma chama quando está frio lá fora, um trovão quando chove.
Se eu viver eternamente e todos os meus sonhos tornarem-se realidade,
Minhas lembranças do amor serão sobre você...


E alguns dizem que o amor está persistindo e alguns dizem que está desistindo
E alguns dizem que o amor é tudo e alguns dizem que não sabem


Talvez o amor seja como o oceano, repleto de conflito, repleto de dor
Como uma chama quando está frio lá fora, um trovão quando chove.
Se eu viver eternamente e todos os meus sonhos tornarem-se realidade,
Minhas lembranças do amor serão sobre você...

John Denver & Placido Domingo

sexta-feira, 25 de março de 2011

O poço de Ryan

Ele só tinha seis anos quando a professora da primeira série falou do triste destino de crianças que viviam na áfrica empobrecida e devastada por doenças.

Ryan estremeceu ao saber que centenas de milhares de crianças africanas morrem todos os anos por beberem água contaminada.

A sua escola estava angariando fundos para a áfrica e ele soube que setenta dólares custeariam um poço.

Ao chegar em casa, pediu à mãe o dinheiro e disse porque precisava. A mãe sugeriu que ele fizesse tarefas extras para conseguir a quantia.

Pegou uma folha de papel e desenhou um diagrama contendo trinta e cinco linhas. Para cada dois dólares recebidos, Ryan preenchia uma linha e guardava o dinheiro numa lata vazia de biscoitos.

Começou aspirando o pó da sala, depois lavou as janelas. Seu avô lhe pagou dez dólares, cada saco de lixo que enchesse com as pinhas que caíam no quintal.

Num certo dia de abril de 1998, Ryan entregou a uma organização internacional a sua lata de biscoitos contendo setenta dólares.

A senhora diretora que o atendeu, agradeceu mas explicou que uma bomba manual custava setenta dólares, mas para perfurar um poço eram necessários quase dois mil dólares.

“Então vou trabalhar mais”, disse o menino. Os pais se envolveram e desencadearam uma campanha de doações.

Aos sete anos, Ryan conseguira juntar um pouco mais de setecentos dólares e a quantia que faltava foi completada pela agência de desenvolvimento internacional canadense.

Ryan e seus pais foram convidados para uma reunião com o representante de Uganda na “associação médicos canadenses para auxílio e assistência”, grupo que recolhia os fundos angariados e, com a ajuda dos habitantes das aldeias, construía e mantinha os poços.

Ryan foi abraçado pelo representante Shibru que confirmou ao menino que o poço poderia ser feito perto de uma escola, em um vilarejo ao norte de Uganda.

Mas falou que eram necessárias vinte pessoas trabalhando dez dias para construir um poço com um escavador manual. Uma perfuradora pequena custava vinte e cinco mil dólares.

Disposto a conseguir o dinheiro, o menino teve sua história publicada em um jornal canadense e em dois meses, tinha inspirado sete mil dólares em doações.

Já cursando a segunda série, Ryan e seus colegas de classe passaram a se corresponder com os meninos do vilarejo que seria beneficiado com o poço.

Enquanto isso, Ryan passava horas escrevendo cartas pedindo dinheiro a várias organizações. Finalmente, conseguiu a quantia devida para a compra do equipamento.

Em 27 de julho de 2000 um caminhão transportando Shibru, Ryan e seus pais, desceu a estrada de terra que levava ao pequeno vilarejo.

Cerca de 3 mil crianças aguardavam na beira da estrada, batendo palmas. Os líderes da aldeia receberam Ryan e o levaram até o poço, ao lado da horta da escola. Na base de concreto estava escrito:

Poço de Ryan. Construído por Ryan Hreljac. Para a comunidade da escola elementar.

Naquela noite, na cama, Ryan disse para sua mãe: “estou muito feliz.”

Terminou aquele dia inesquecível com a oração que fazia todas as noites: “desejo que todos na áfrica tenham água limpa.”

Pense nisso!

A fraternidade não conhece fronteiras e o amor desconhece limites.

Aprendamos com Ryan a pensar grande, a ir além. Quem poderia imaginar que um menino de seis anos poderia fazer tanto?

Permitamo-nos o contágio do bem, com essa vontade de auxiliar, com esse sentimento de se importar com o outro, mesmo que lhe desconheçamos o nome. Mesmo que só o que ele necessite seja de um copo de água limpa e fresca, para se manter vivo.

Texto de responsabilidade da equipe de redação do momento espírita,
a partir do artigo “o poço de Ryan”, da revista Seleções do Reader’s Digest de dezembro 2001

quarta-feira, 23 de março de 2011

Em favor dos animais

Vós, que vedes luzes nestas letras que traçam a evolução espiritual, tende compaixão dos pobres animais!

Sede bons para com eles, como desejais que o Pai Celestial vos cerque de carinho e de amor! Não encerreis os pássaros em gaiolas... Renunciai às caçadas... Acariciai os vossos animais! Dai-lhes remédios na enfermidade e repouso na velhice!

Lembrai-vos de que os animais são seres vivos, que sentem, que pensam, que se cansam, que têm força limitada, que adoecem, que envelhecem...

Os animais são vossos companheiros de existência terrestre! Como vós, eles vieram progredir, estudar, aprender! Sede seus anjos tutelares... Sede benevolentes para com eles, como é benevolente, para com todos, o nosso Pai que está nos céus!


© Cairbar Schutel

segunda-feira, 14 de março de 2011

A tranquilidade das ovelhas

A noite estava escura, céu sem estrelas. De vez em quando ouvia-se o uivo de um lobo bem longe, misturado com o barulho do vento. As crianças reunidas na tenda do Mestre Benjamin estavam com medo. Mestre Benjamim sentiu o medo nos seus olhos. Foi então que uma delas perguntou:
- Mestre Benjamim, há um jeito de não ter medo? Medo é tão ruim!
Mestre Benjamim respondeu:
- Há sim... E ficou quieto.
Veio então a outra pergunta:
- E qual é esse jeito?
- É muito fácil. É só pensar como as ovelhas pensam...
- Mas como é que vou saber o que as ovelhas estão pensando?
Mestre Benjamim respondeu:
- Quando durante a noite, as ovelhas estão deitadas na pastagem, os lobos estão à espreita. E eles uivam. As ovelhas têm medo. Mas aí, misturado ao uivo dos lobos, elas ouvem a música mansa de uma flauta. É o pastor que cuida delas e não dorme nunca. Ouvindo a música da flauta elas pensam:
Há um pastor que me protege. Ele me leva aos lugares de grama verde e sabe onde estão as fontes de águas límpidas. Uma brisa fresca refresca a minha alma. Durante o dia ele me pega no colo e me conduz por trilhas amenas. Mesmo quando tenho de passar pelo vale escuro da morte eu não tenho medo. A sua mão e o seu cajado me tranqüilizam. Enquanto os lobos uivam, ele me dá o que comer. Passa óleo perfumado na minha cabeça para curar minhas feridas. E me dá água fresca para sarar o meu cansaço. Com ele não terei medo, eternamente... (Salmo 23, paráfrase)
Mestre Benjamim parou de falar. Os olhos de todas as crianças estavam nele. Foi então que uma delas levantou a mão e perguntou:
- E os lobos? Eles vão embora? Eles morrem?
- Os lobos continuam a uivar. E continuam a ser perigosos. O pastor não consegue espantar todos eles. E por vezes eles atacam e matam. Mas as ovelhas, ouvindo a música da flauta do pastor dormem sem medo, não porque não haja mais perigo, mas a despeito do perigo. Não há jeito de acabar com o perigo. Mas há um jeito de acabar com o medo. Coragem é isso: dormir sem medo a despeito do perigo...
As crianças voltaram para suas tendas e dormiram sem medo, pensando nos pensamentos das ovelhas. De vez em quando, lá fora, ouvia-se o uivo de um lobo faminto. Desde então, tornou-se costume contar ovelhinhas para dormir.

Texto de Rubem Alves, do livro:
“Perguntaram-me se acredito em Deus”