Frase do dia
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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Nova Carta de Pero Vaz de Caminha

Olá meu amado Rei, aqui quem fala é o Pero Vaz. Está me ouvindo bem? Peguei emprestado o celular de um nativo aqui da nova terra. Tudo bem, o Capitão Pedro está lhe mandando um abraço. Chegamos na terça, 21 de abril, mas deixei para ligar no Domingo porque a ligação é mais barata. É aqui tem dessas coisas.

Os nativos ficaram espantados com a nossa chegada por mar, não achavam que eramos Deuses, Majestade. Acharam que eramos loucos de pisar em um mar tão sujo. A ligação está boa? Pois é, essa terra é engraçada. Tem telefonia celular digital, automóveis importados, acesso gratuito à Internet mas ainda tem gente que morre de malária e está cheia de criança barriguda de tanto verme. É meio complicado explicar.

Se já encontramos o chefe?

Olha Rei, tá meio complicado. Aqui tem muito cacique para pouco índio. Logo que chegamos a Porto Seguro tinha um cacique lá que dizia que fazia chover, que mandava prender e soltar quem ele quisesse. É, um cacique bravo mesmo... Mais para o Sul encontramos outra tribo, uma aldeia maravilhosa e muito festiva, com lindas nativas quase nuas. Seguindo em direção ao Sul, saímos do litoral e adentramos-nos ao planalto.

Lá encontramos uma tribo muito grande. A dos índios Sampa. Conhecemos o seu cacique, que tinha apito mas que não apitava nada, coitado. Dizem até que ele apanha da mulher. O senhor está rindo, Majestade? Juro que é verdadeiro o meu relato. Como vossa Majestade pode perceber, é uma terra fácil de se colonizar, pois os nativos não falam a mesma língua.

Sim, são pacíficos sim. É só verem um côco no chão para eles começarem a chutá-lo e esquecerem da vida. Sabem, sabem ler, mas não todos. A maioria lê muito mal e acredita em tudo que é escrito. Vai ser moleza, fica frio. Parece que há um "Cacicão Geral", mas ele quase não é visto. O homem viaja muito. Dizem que se a intenção for evitar encontrá-lo, é só ficar sentado no trono dele.

Engraçado mesmo é que a "indiaiada" trabalha a troco de banana. É banana!!! Todo mês eles recebem no mínimo 151 bananas. Não é piada, Majestade!! É sério!! Só vindo aqui prá ver. Olha, preciso desligar. O rapaz que me emprestou o telefone celular precisa fazer uma ligação. Ele é comerciante. Disse que precisa avisar ao povo que chegou um novo carregamento de farinha. Engraçado... eles ficam tão contentes em trabalhar... A cada mercadoria que chega, eles sobem o morro e soltam rojões.

É uma terra muito rica, Majestade. Acho que desta vez acertamos em cheio. Isso aqui ainda vai ser o país do futuro...

© Paulo D'Angelo

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Mensagem da Segunda-Feira

Lições de Vida

Cada dia, nossas vidas, nos ensina lições que muitas vezes nem percebemos.
Desde o nosso primeiro piscar de olhos, desde cada momento em que a fome bate, desde cada palavra que falamos.
Passamos por inúmeras situações, na maioria delas somos protegidos, até que um dia a gente cresce e começa a enfrentar o mundo sozinhos.
Escolher a profissão, ingressar numa faculdade, conseguir um emprego...
Essas são tarefas que nem todos suportam com um sorriso no rosto ou nem todos fazem por vontade própria.
Cada um tem suas condições de vida e cada qual será recompensado pelo esforço, que não é em vão.
Às vezes acontecem coisas que a gente nem acredita.
Às vezes, dá tudo, tudo errado!
Você pensa que escolheu a profissão errada, que você não consegue sair do lugar, ás vezes você sente que o mundo todo virou as costas...
Parece que você caiu e não consegue levantar...
Está a ponto de perder o ar...
Talvez você descubra que quem dizia ser seu amigo, nunca foi seu amigo de verdade e talvez você passe a vida inteira tentando descobrir quem são seus inimigos e nunca chegue a uma conclusão.
Mas nem tudo pode dar errado ao mesmo tempo, desde que você não queira.
E aí... Você pode mudar a sua vida!
Se tiver vontade de jogar tudo pro alto, pense bem nas conseqüências, mas pense no bem que isso poderá proporcionar.
Não procure a pessoa certa, porque no momento certo aparecerá.
Você não pode procurar um amigo de verdade ou um amor como procura roupas de marca no shopping e nem mesmo encontra as qualidades que deseja como encontra nas cores e tecidos ou nas capas dos livros.
Olhe menos para as vitrines, mas tente conhecer de perto o que está sendo exibido.
Eu poderia estar falando de moda, de surf, de tecnologia ou cultura, mas hoje, escolhi falar sobre a vida!
Encontre um sentido para a sua vida, desde que você saiba guiá-la com sabedoria.
Não deixe tudo nas mãos do destino, você nem sabe se o destino realmente existe...
Faça acontecer e não espere que alguém resolva os seus problemas, nem fuja deles.
Encare-os de frente. Aceite ajuda apenas de quem quer o seu bem, pois embora não possam resolver os seus problemas, quem quer o seu bem te dará toda a força necessária pra que você possa suportar e...
Confie! Entenda que a vida é bela, mas nem tanto...
Mas você deve estar de bem consigo mesmo pra que possa estar de bem com a vida.
Costumam dizer por aí que quem espera sempre alcança, mas percebi que quem alcança é quem corre atrás...
Não importa a sua idade, nem o tamanho de seu sonho...
A sua vida está em suas próprias mãos e só você sabe o que fazer com ela...

© Lilian Roque de Oliveira

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A Pipa e a Flor

"Fiquei triste vendo aquela pipa enroscada no galho da árvore. Rasgada, ela girava que girava, ao vento, como se quisesse escapulir. Mas não adiantava. Você já viu aqueles bichinhos de asas, quando eles caem em teias de aranhas? Era daquele jeito... Tive dó. Pipa não foi feita para acabar assim. Pipa foi feita para voar. E é tão bom quando a gente as vê, lá no alto... Eu sempre tive vontade de ser uma pipa..." (Rubem Alves)

Um menino confeccionou uma pipa. Ele estava tão feliz, que desenhou nela um sorriso. Todos os dias, ele empinava a pipa alegremente. A pipa também se sentia feliz e, lá do alto, observava a paisagem e se divertia com as outras pipas que também voavam.

Um dia, durante o seu vôo, a pipa viu lá embaixo uma flor e ficou encantada, não com a beleza da flor, porque ela já havia visto outras mais belas, mas alguma coisa nos olhos da flor a havia enfeitiçado.

Resolveu, então, romper a linha que a prendia a mão do menino e dá-la para a flor segurar. Quanta felicidade ocorreu depois!

A flor segurava a linha, a pipa voava; na volta, contava para a flor tudo o que vira.

Acontece que a flor começou a ficar com inveja e ciúme da pipa.

Invejar é ficar infeliz com as coisas que os outros têm e nós não temos; ter ciúme é sofrer por perceber a felicidade do outro quando a gente não está perto.

A flor, por causa desses dois sentimentos, começou a pensar: se a pipa me amasse mesmo, não ficaria tão feliz longe de mim...

Quando a pipa voltava de seu vôo, a flor não mais se mostrava feliz, estava sempre amargurada, querendo saber com quem a pipa estivera se divertindo.

A partir daí, a flor começou a encurtar a linha, não permitindo à pipa voar alto. Foi encurtando a linha, até que a pipa só podia mesmo sobrevoar a flor.

Esta história, segundo conta o autor, ainda não terminou e está acontecendo em algum lugar neste exato momento.

Há três finais possíveis para ela:

1 - A pipa, cansada pela atitude da flor, resolveu romper a linha e procurar uma mão menos egoísta.

2 - A pipa, mesmo triste com a atitude da flor, decidiu ficar, mas nunca mais sorriu.

3 - A flor, na verdade, era um ser encantado. O encantamento se quebraria no dia em que ela visse a felicidade da pipa e não sentisse inveja nem ciúme.

Isso aconteceu num belo dia de sol: a flor se transformou numa linda borboleta e as duas voaram juntas.

© Rubem Alves

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Declaração de amor para as mulheres

Se uma memória restou das festinhas e reuniões familiares da minha infância foi a divisão sexual entre as pessoas: mulheres de um lado, homens do outro.
Não sei se hoje isso ainda ocorre. Sou anti-social a ponto de não freqüentar qualquer evento com mais de 4 pessoas, o que não me credencia a emitir juízo. Mas era assim que a coisa rolava naqueles tempos.
Tive uma infância feliz: sempre fui considerado esquisito, estranho e solitário, o que me permitia ficar quieto observando tudo.
Bom, rapidinho verifiquei que o apartheid sexual ia muito além das diferenças anatômicas. A fronteira era determinada pelos pontos de vista, atitude e prioridades.
Explico: do lado masculino imperava o embate das comparações e disputas. Meu carro é mais potente, minha TV é mais moderna, meu salário é maior, a vista do meu apartamento é melhor, o meu time é mais forte, eu dou 3 por noite e outras cascatas típicas da macheza latina. Já do lado oposto, respirava-se outro ar. As opiniões eram quase sempre ligadas ao sentir.

Falava-se de sentimentos, frustrações e recalques com uma falta de cerimônia que me deliciava.
Os maridos preferiam classificar aquele ti-ti-ti como fofoca. Discordo.
Destas reminiscências infantis veio a minha total e irrestrita paixão pelas mulheres. Constatem, é fácil. Enquanto o homem vem ao mundo completamente cru, freqüentando e levando bomba no bê-á-bá da vida, as mulheres já chegam na metade do segundo grau. Qualquer menina de 2 ou 3 anos já tem preocupações de ordem prática.
Ela brinca de casinha e aprende a dar um pouco de ordem nas coisas. Ela pede uma bonequinha que chama de filha e da qual cuida, instintivamente, como qualquer mãe veterana. Ela fala em namoro mesmo sem ter uma idéia muito clara do que vem a ser isso. Em outras palavras, ela já chega sabendo. E o que não sabe, intui.

Já com os homens a historia é outra. Você já viu um menino dessa idade brincando de executivo? Já ouviu falar de algum moleque fingindo ir ao banco pagar as contas? Já presenciou um bando de meninos fingindo estar preocupados com a entrega da declaração do Imposto de Renda? Não, nunca viram e nem verão.
Porque o homem nasce, vive e morre uma existência juvenil. O que varia ao longo da vida é o preço dos brinquedos.
E aí reside a maior diferença: o que para as meninas é treino para a vida, para os meninos é fantasia, é competição. É fuga.
Falo sem o menor pudor. Sou direto. Sou assim. Todo homem é assim. Em relação ao relacionamento homem/mulher, sempre me considerei um privilegiado. Sempre consegui enxergar a beleza física feminina mesmo onde, segundo os critérios estéticos vigentes, ela inexistia.
Porque toda mulher é linda. Se não no todo, pelo menos em algum detalhe.
É só saber olhar. Todas têm sua graça.
E embora contaminado pela irreversível herança genética que me faz idolatrar os ícones de cafajestismo, sempre me apaixonei perdidamente por todas as incautas que se aproximaram de mim. Incautas não por serem ingênuas, mas por acreditarem.

PORQUE TODA MULHER ACREDITA FIRMEMENTE NA POSSIBILIDADE DO HOMEM IDEAL.

E esse é o seu único defeito.

® Sérgio Gonçalves

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O Desempregado

Apresentou-se na firma de colocação de mão-de-obra.
Após horas na fila de desempregados,
chegou a sua vez de ser entrevistado:
- Sabe fazer o quê?
- Bem, entendo de construção civil, meu pai trabalhava no ramo.
Gosto de culinária e acho que não me daria mal na agricultura.

- Hum, Hum. O que tem feito ultimamente?
- Sou andarilho, espalho novas idéias e boas notícias.
- Ora, isso tudo é muito vago.
Quero saber quais são as suas aptidões.
- Sou bom em recursos humanos.
Sei organizar grupos e incentivar pessoas.

- Considera-se um homem dotado de espírito de competitividade?
- Sou mais pela solidariedade.
Gosto de somar esforços, unir o que está dividido,
quebrar distâncias, incluir os excluídos.
- Na área da saúde, tem algum conhecimento?
- Sim, às vezes faço curas por aí.

- Isso é exercício ilegal da medicina.
Só os médicos e os medicamentos cientificamente
comprovados podem curar.
Ou será que você também embarcou nessa onda
de que meditação cura?
- É, meditação traz boa saúde.
É o meu caso.
Medito todas as manhãs ou ao anoitecer.
Às vezes passo toda a noite meditando.
E, como vê, gozo de muito boa saúde.

- Que mais sabe fazer?
- Sei pescar, preparar anzóis, monitorar
uma embarcação e até assar peixes.
- Bem, no momento não há procura neste ramo.
Os japoneses já ocuparam todas as vagas.
Se fosse escolher uma profissão, qual seria?
- A de publicitário. Creio que sou bom de propaganda.
- Que tipo de produto gostaria de vender?
- A felicidade.
- A felicidade?
- Sim, como o senhor escutou.
- Meu caro, a felicidade é o bem mais procurado do mundo.
É uma demanda infinita.
É o que todo mundo busca.
Só que ninguém ainda descobriu como oferecê-la no mercado.
O máximo que temos conseguido é tentar convencer
que ela resulta da soma dos prazeres.
- Como assim?
- Se você usar esta roupa, tomar aquela bebida,
passar no cabelo aquele produto, viajar para tal lugar,
você haverá de encontrar a felicidade.
- Mas isso é enganar a freguesia.
A felicidade não se confunde com nenhum bem de posse.
Ela só pode ser encontrada no amor.
- Bela teoria!
E pensa que as pessoas não têm medo de amar?
- Têm medo porque não têm fé.
Se acreditassem em alguém e em si mesmas, amariam despudoradamente.
- Vejo que você é mesmo bom de lábia.
Quer um emprego de vendedor de cosméticos?
- Prefiro não vender ilusões.
Melhor oferecer esperanças.
- Esperanças? Do jeito que o mundo está?
Cara, trate de ganhar seu dinheiro.
Hoje em dia é cada um por si e Deus por ninguém.
- Não penso assim.
Se houver esperança de um futuro melhor,
haverá indignação frente ao presente injusto.
Então as pessoas haverão de mudar as coisas.
- Pelo que vejo você gosta de política.
- Não sou político, mas exerço o meu direito de cidadania.
Defendo os direitos dos pobres.
- Desconfio que você é um desses vagabundos
utópicos que nas praças divertem os jovens aos domingos.
Você bebe?
- Só vinho.
- Como é o seu nome?
- Jesus, mas pode me chamar de Emmanuel.

® Frei Roberto