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terça-feira, 28 de outubro de 2008

O Porteiro

Não havia no povoado pior ofício do que aquele: porteiro do clube. Mas, que outra coisa poderia fazer aquele homem? O fato é que nunca tinha aprendido a ler nem escrever, e não tinha nenhuma outra atividade ou ofício.
Um dia, entrou como gerente do lugar um jovem cheio de idéias, criativo e empreendedor, que decidiu modernizar o estabelecimento. Fez mudanças e chamou os funcionários para novas instruções. Ao porteiro, disse:

- A partir de hoje, o senhor, além de ficar na portaria, vai preparar um relatório semanal, onde registrará a quantidade de pessoas que entram e seus comentários e reclamações sobre os serviços.
- Eu adoraria fazer isso, senhor - balbuciou -, mas eu não ser ler nem escrever!

- Ah, quanto eu o sinto! Mas, se é assim, já não poderá seguir trabalhando aqui.
- Mas, senhor, não pode me despedir, eu trabalhei nisso a minha vida inteira, não sei fazer outra coisa.
- Olha, eu compreendo, mas não posso fazer nada pelo senhor. Vamos dar-lhe uma boa indenização e espero que encontre algo para fazer. Eu sinto muito.
Sem mais, deu meia-volta e foi embora.

O porteiro sentiu como se o mundo desmoronasse. Que fazer? Então lembrou que no clube, quando quebrava alguma cadeira ou mesa, ele de pronto a arrumava, com cuidado e com carinho. Pensou que esta poderia ser uma boa ocupação até conseguir um emprego. Mas, só contava com alguns pregos enferrujados e um alicate mal conservado. Porém, poderia usar o dinheiro da indenização para comprar uma caixa de ferramentas completa. Como o povoado não tinha casa de ferragens, deveria viajar dois dias em uma mula para ir ao povoado mais próximo realizar a compra. E assim o fez.

No seu regresso, um vizinho bateu à sua porta:
- Venho para perguntar se você tem um martelo para me emprestar.
- Sim, acabo de comprar um, mas eu preciso dele para trabalhar, já que fiquei sem emprego.
- Bem, mas eu o devolvo amanhã bem cedo.
- Se é assim, está bem.
Na manhã seguinte, como havia prometido, o vizinho bateu à porta e lhe disse:
- Olha, eu ainda preciso do martelo. Porque você não o vende para mim?
- Não, eu preciso dele para trabalhar. E, além do mais, a casa de ferragens mais próxima está a dois dias de viagem daqui.
- Façamos um trato - disse o vizinho. - Eu pagarei os dias de ida e volta mais o preço do martelo, já que você está sem trabalho no momento. Que lhe parece? Realmente, isso lhe daria trabalho por mais dois dias...

Ele aceitou. Voltou a montar sua mula e viajou. No seu regresso, outro vizinho o esperava na porta de sua casa.
- Olá, vizinho. Você vendeu um martelo a nosso amigo. Eu também necessito de algumas ferramentas e estou disposto a pagar-lhe seus dias de viagem e mais um pequeno lucro para que você as compre para mim, pois não disponho de tempo para viajar. Que lhe parece?
O ex-porteiro abriu sua caixa de ferramentas e seu vizinho escolheu um alicate, uma chave de fenda, um martelo e uma talhadeira. Pagou e foi embora. E nosso amigo guardou as palavras que escutara: "Não disponho de tempo para viajar". Se isto fosse certo, muita gente poderia necessitar que ele viajasse para trazer as ferramentas.

Na viagem seguinte, arriscou um pouco mais de dinheiro, trazendo mais ferramentas do que as que havia vendido. De fato, poderia economizar algum tempo em viagens.
A notícia começou a se espalhar pelo povoado e muitos, querendo economizar a viagem, faziam encomendas. Agora, como vendedor de ferramentas, uma vez por semana viajava e trazia o que precisavam. Com o tempo, alugou um galpão para estocar as ferramentas, e, alguns meses depois, comprou uma vitrine e um balcão, transformando o galpão na primeira loja de ferragens do povoado.

Todos estavam contentes e compravam dele. Já não viajava, os fabricantes é que lhe enviavam seus pedidos. E ele era um bom cliente. Com o tempo, as pessoas dos povoados vizinhos preferiam comprar na sua loja de ferragens do que gastar dias em viagens.
Então ele lembrou de um amigo que era torneiro e ferreiro e pensou que ele poderia fabricar as cabeças dos martelos. E logo - por que não? - as chaves de fenda, os alicates, as talhadeiras... E depois, os pregos e os parafusos.

Em poucos anos, o nosso amigo se transformou, com seu trabalho, em um rico e próspero fabricante de ferramentas.
Um dia, decidiu doar uma escola ao povoado. Nela, além de ler e escrever, as crianças aprenderiam algum ofício. No dia da sua inauguração, o prefeito entregou-lhe as chaves da cidade, abraçou-o e disse-lhe:
- É com grande orgulho e gratidão que pedimos conceder-nos a honra de colocar a sua assinatura na primeira página do Livro de Atas desta nova escola.
- A honra seria minha - disse o homem. - A coisa que mais me daria prazer seria assinar o Livro, mas eu não sei ler nem escrever, sou analfabeto.
- O senhor?! - disse o prefeito, sem acreditar. - O senhor construiu um império industrial sem saber ler nem escrever? Estou abismado! E o que teria sido do senhor se soubesse ler e escrever?

- Ah, isso eu posso responder - disse o homem com calma. - Se eu soubesse ler e escrever... ainda seria o porteiro do clube!

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Geralmente as mudanças são vistas como adversidades.
Mas, as adversidades podem ser bênçãos, porque as crises
estão cheias de oportunidades.

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Meus irmãos, tende por motivo de alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz força. (Tiago, 1:2-3)

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