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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A nossa felicidade vista de Madrid

Jornalista Espanhol sobre a felicidade Brasileira

O texto não fala de política, disputas e vaidades.

O jornal espanhol fala de como nos sentimos felizes.

O jeito brasileiro de ser.

Uma agradável leitura.

O que explica Rio-2016?
A vocação inata do Brasil para a felicidade
EL PAIS
Juan Arias

O fato de o Rio de Janeiro ter ganhado a disputa para hospedar os Jogos
Olímpicos de 2016, deixando para trás cidades de grande prestígio como
Madri, Chicago e Tóquio, já foi analisado de todas as formas. Tudo foi dito.
Que a América do Sul já merecia uma Olimpíada. E é verdade. Que o Brasil é
hoje a potência econômica emergente da região. Também é verdade, assim como
que boa parte da vitória se deveu à enorme popularidade mundial do
carismático ex-metalúrgico e hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E
com ele a atuação do deus do futebol, Pelé, e do mago carioca Paulo Coelho,
que soube ganhar a simpatia das mulheres dos delegados do Comitê Olímpico
Internacional (COI), as quais convidou para jantar em um restaurante em
Copenhague, em um clima de felicidade brasileira. Ou terão sido só as
imagens das belezas únicas da mágica cidade carioca? Também, mas não só.

Existe outro elemento pouco destacado, que é a vocação inata do Brasil e
dos brasileiros para a felicidade, que acaba se irradiando
internacionalmente, contagiando o mundo.

Se houvesse sido feita uma pesquisa nacional, teria aparecido que nesse dia
100% dos brasileiros se sentiram felizes quando o presidente do COI abriu o
envelope e apareceu Rio de Janeiro como vencedora da competição para
realizar os Jogos Olímpicos de 2016. Os brasileiros, que gozam de uma
formidável coesão nacional, estão sempre abertos para acolher qualquer
motivo para ser felizes. E abrigar os jogos lhes causou orgulho e
felicidade. E não escondem isso - outra característica do brasileiro.

Em minha primeira entrevista com a atriz de cinema e teatro Fernanda
Montenegro, quando cheguei ao Brasil, há dez anos, ela me disse algo que
nunca esqueci e que mais tarde pude tocar com a mão: "A diferença entre um
europeu e um brasileiro é que o brasileiro não se envergonha de dizer que é
feliz, e o europeu, sim".

Qualquer um que passa pelo Brasil, por turismo ou trabalho, sente-se
rapidamente capturado pela cordialidade, a exuberância afetiva, o
acolhimento alegre de sua gente, do norte ao sul do país. "É que com os
brasileiros não se pode brigar, porque sorriem até quando você fica
nervoso", me disse um correspondente argentino. É verdade. A vocação do
brasileiro é mais para a paz, a amizade, o entendimento mútuo, o desejo de
agradar, do que para a guerra ou a disputa. E então, o que acontece com a
violência que mata no Brasil mais que em outros países? Não é uma violência
brasileira, mas produzida pelo câncer do tráfico de drogas.

A melhor arma do brasileiro continua sendo o sorriso. O catedrático de
estética da Universidade do Rio Isaías Latuf foi indagado em plena na rua em
Buenos Aires se era brasileiro. "Como percebeu?", ele perguntou. E a
resposta foi: "Por seu sorriso".

Segundo uma pesquisa realizada em 2008 em 120 países pelo Instituto Gallup
e apresentado pela Fundação Getúlio Vargas, a felicidade do brasileiro é
superior a seu PIB. O jovem brasileiro aparece com uma avaliação da
felicidade superior à média mundial. O estudo revela que os jovens
brasileiros entre 15 e 29 anos apresentam maior esperança de ser felizes nos
próximos cinco anos do que os jovens do resto do mundo. E essa esperança de
felicidade alcança 9,29%.

Os psicólogos tentaram analisar esses dados. Como é possível que os jovens
de um país que aparece somente no 52º lugar no índice mundial de renda se
sintam os mais felizes do planeta? O psicólogo Dionisio Benaszewski atribui
isso ao fato de que, segundo a mesma pesquisa, os jovens brasileiros
valorizam mais a felicidade do que o trabalho ou o dinheiro. Se há algo que
de fato eu constatei no Brasil é que a maioria dos cidadãos, até os mais
pobres, não vivem para trabalhar; trabalham para viver e para viver felizes.
É quase impossível conseguir que alguém queira trabalhar em um domingo,
mesmo ganhando o dobro. Costumam dizer: "Ah, não, domingo não dá".

Segundo Benaszewski, existe outro elemento gerador de felicidade no Brasil,
que é causado pelas boas relações existentes entre membros da família e
entre vizinhos. Aqui a rede de solidariedade, sobretudo entre os mais
pobres, é formidável. Um exemplo disso são as favelas do Rio, que entre elas
se chamam de "comunidades". E o são. O elemento afeto nas relações e o afã
por ajudar-se mutuamente nas adversidades, ou de desfrutar os momentos
felizes, são proverbiais.

Costuma-se dizer que os brasileiros sabem tirar felicidade até das pedras
Eles a buscam na alegria e na tristeza. No dia em que o Rio ganhou como sede
dos Jogos Olímpicos, um casal de jovens brasileiros entrevistado em Madri
por um repórter do programa de Iñaki Gabilondo disse algo mais ou menos
assim: "Não fiquem tristes. Venham para o Rio, que é uma cidade maravilhosa,
que se sentirão felizes". Pensei que, se tivesse sido o contrário, se Madri
tivesse ganhado e o Rio, perdido, a jovem também teria se consolado de
alguma forma, dizendo que estava feliz na maravilhosa cidade de Madri.

Assim são os brasileiros. São mergulhadores no mar da felicidade e, como
não escondem isso, acabam contagiando os outros. Sem dúvida esse contágio
também teve a ver na hora da votação em Copenhague.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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