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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Hoje eu vi um menino...

Hoje eu vi um menino sozinho brincando na rua. Não deveria ter mais do que quatro anos. O menino, lindo, estava sujo, imundo, nariz escorrendo, pés descalços, usava roupas maiores do que o seu magro corpo. Hoje eu vi um menino brincando com o lixo jogado sobre a calçada numa rua localizada na zona "nobre", ou "jardins", na Capital de São Paulo.

Hoje senti bem de perto o quanto o abandono pode destruir um pequeno e indefeso ser humano. Perguntei seu nome. Ele respondeu com naturalidade: "Não tenho nome".
Insisti e falei, todos os meninos tem nome. A frágil criaturinha respondeu com voz de quase bebê: "Minha mãe me chama de peste". Engoli em seco e perguntei: "Quer que eu brinque com você?"

Ele levantou os olhos por um instante e respondeu:"Sim". Perguntei o que ele queria que eu fizesse. Pediu que o ajudasse a colocar um cone de papelão dentro do outro
- muitos deles estavam misturados a outras espécies de lixo descartável. Em nenhum momento sorriu. Passei algum tempo com o garotinho fazendo de conta que aquela brincadeira era muito interessante para mim. E era. E foi. E será.

Hoje eu vi um lindo menino abandonado e sujo numa rua que não fica na periferia. Hoje brinquei, com o coração machucado, com um menino que aprendeu a repetir que seu nome é "peste". Quando ele se afastou e foi procurar outra brincadeira, como faz qualquer criança de sua idade, me senti abandonada. Perdi o rumo.

Hoje brinquei na calçada apoiando cones de papelão para valorizar um menino que desconhece seu nome. Parada na calçada pensei, dentro de alguns minutos será noite: onde irá se abrigar o menino sem nome que tem como referência de identidade uma mãe que o chama de "peste"?

Neste bairro chamado "jardins", nesta cidade denominada capital financeira de um país chamado Brasil, conheci um dos muitos brasileirinhos reféns da mais absoluta miséria física e moral. Hoje eu vi um menino condenado pelo crime de ter nascido!

© Erony Marcellino

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