Frase do dia
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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O presente

Fui à livraria comprar um buquê de versos. O florista que me atendeu disse-me que estavam em falta. Mas não desisti. Fui até a loja que vende flores e pedi um livro de poesias cheirando a jasmins. O livreiro desculpou-se dizendo que estava esgotado.

Teimoso como sou entrei no circo querendo comprar a tristeza do palhaço, mas só tinham para vender a caricatura do seu sorriso.

Diante disso, fui até a maternidade tentando achar um pouco de ternura, mas a enfermeira garantiu-me que isso só se encontra nos livros de poesia. Então, ante o dilema de parar ou seguir, decidi continuar à procura do presente, pois queria mandar algo que significasse mais do que apenas um mimo.

Sim, revirei meia cidade buscando alguns gritos de felicidade, mas só achei gemidos de segunda mão. Tentei encontrar suspiros de prazer, porém o lojista só dispunha de silêncios que não paravam de gritar. Revirei as estantes à cata de um vinho feito de suor gerado no desejo e de lágrimas paridas na emoção do encontro, mas apenas achei garrafas vazias e cansadas de esperar por quem as encha.

E foi assim que de prateleira em prateleira, de loja em loja, de bairro em bairro, esgotei o estoque de possibilidades, pois na cidade apenas sobraram sem mácula as esquinas da vida, as praças da esperança, as árvores impávidas, e os ninhos sem cadeado onde habitam os pássaros sem tristeza.

Por tudo isso é que só me restou uma alternativa, e a uso antes que seja tarde demais. Espero então que aproveite a esquina que lhe mando para nela aguardar até que o sinal da felicidade fique verde de alegria; a praça, para que desde um dos seus bancos, e olhando o céu, possa desfolhar a alegoria do amanhecer recitando borboletas de todas as cores; as árvores, para que à sombra dos seus galhos floresça a inspiração sempre que ela visite os seus domínios; os ninhos, para dar guarida ao gorjeio sentimental que sua sensibilidade borde em prosa e verso sobre a toalha de renda da vida; e os pássaros felizes, para que sobrevoem as paisagens que a sua imaginação lhes implante nas retinas.

Como ja disse, isto foi o único que achei para mandar. Sei que é muito pouco, pouco até demais, não mais do que uma amostra de esperança, mas como tratei de explicar, foi o único que achei para mandar.

© Bruno Kampel

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Se eu pudesse

Acordei hoje pensando que, se eu pudesse, mudava minha vida toda; não que ela esteja ruim, mas só para ver que ela poderia ser diferente.
Me desfaria de muitas coisas: da minha casa e de quase todas as roupas. Afinal, quem precisa de mais de dois pares de sapato, dois jeans, quatro camisetas e dois suéteres, sobretudo quando está mudando de vida?

Se eu tivesse jóias, enterrava todas elas na areia da praia para que um dia alguém enfiasse a mão na areia, brincando, e tivesse a felicidade de encontrar um colar de brilhantes.
Seria lindo, não? Das garrafas de champanhe guardadas cuidadosamente na horizontal, daria para abrir mão, sem nenhum remorso; champanhe, além de engordar, não passa de um espumante metido a alguma coisa e nem barato dá, de tão fraquinho que é.

Dos vinhos, mais fácil ainda. É um tal problema ter vinhos em casa, abrir a garrafa e descobrir que viraram vinagre, que se acaba chegando à conclusão de que nada melhor do que uma boa vodca, com a qual sempre se pode contar. E as amizades? Aliás, as amizades, não: as relações. Ah, se tivesse coragem rasgava o caderno de telefones e fazia outro, só com o nome das pessoas que estão guardadas dentro do coração. Aliás, para essas nem precisaria de agenda.

Se pudesse, seria vegetariana, passaria as noites em claro e teria muito amor por todos os bichos e pelas crianças. Mas como não gosto de bichos (só de gatos) e não tenho nenhuma paciência com crianças, a não ser as minhas, vou ter que atravessar a vida levando essa pesadíssima cruz; afinal, ficou combinado que de certas coisas não se pode não gostar, e se não gostar, não se pode dizer.

Se pudesse, me transformaria numa pessoa sem passado e sem futuro; iria para um lugar esquisito onde não entenderia a língua do povo, ninguém entenderia a minha e ninguém conseguiria me fazer sofrer, pois a capacidade de sofrer é um bem pessoal e intransferível. Seríamos todos, assumidamente, estranhos, como somos no edifício em que moramos, no local de trabalho, dentro da nossa própria família. Ou você pensa que as pessoas se conhecem só porque se telefonam e jantam juntas?

Se eu pudesse, acordaria hoje de madrugada e sairia descalça, só com um casaco em cima da pele, e iria molhar os pés na água do mar, sozinha. E depois ia tomar café num botequim, em pé, como fazem os homens.

Se eu pudesse, faria uma linda fogueira com meus casacos de pele para saber como vivem os que não têm, nunca tiveram nem nunca vão ter nenhum. E aproveitando o embalo, cortaria os fios do telefone, jogaria o celular na tela da televisão e o computador pela janela.

Se eu pudesse, rasparia a cabeça, fumaria dois cigarros ao mesmo tempo e tomaria uma vodca dupla, sem gelo, num copo de geléia. E pegaria uma tesourinha para picar os talões de cheques, cortar os cartões de crédito, carteira de identidade, o CPF, e o passaporte, sem pensar um só instante nas conseqüências, e sem um pingo de medo do futuro. E jogaria no lixo meus lençóis, meus travesseiros de pluma, meu edredom, e engoliria minhas pestanas postiças, só para aprender que a vida não é isso.

Se eu pudesse, esqueceria do meu nome, do meu passado e da minha história, e iria ser ninguém. Ninguém. Pois é, tem dias que a gente acorda assim; mas passa.

© Danuza Leão

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A outra janela

A menina debruçada na janela trazia nos olhos grossas lágrimas e o peito oprimido pelo sentimento de dor causado pela morte de seu cão de estimação. Com pesar observava atenta o jardineiro a enterrar o corpo do amigo de tantas brincadeiras. A cada pá de terra jogada sobre o animal, sentia como se sua felicidade estivesse sendo soterrada também.

O avô que observava a neta, aproximou-se envolveu-a em um abraço e falou-lhe com serenidade:

- Triste a cena, não é verdade?

A netinha ficou ainda mais triste e as lágrimas rolaram em abundância. No entanto, o avô que desejava confortá-la chamou-lhe a atenção para outra realidade. Tomou-lhe pela mão e a conduziu para uma janela opostamente localizada na ampla sala. Abriu as cortinas e permitiu-lhe que visse o jardim florido a sua frente e lhe perguntou carinhosamente: Está vendo aquele pé de rosas amarelas bem ali a frente? Lembra que você me ajudou a plantá-lo? Foi em um dia de sol como hoje que nós dois o plantamos. Era apenas um pequeno galho cheio de espinhos e hoje veja como está lindo, carregado de flores perfumadas e botões como promessa de novas rosas.

A menina enxugou as lágrimas que ainda teimavam em permanecer em suas faces e abriu um largo sorriso mostrando as abelhas que pousavam sobre as flores e as borboletas que faziam festa entre umas e outras das tantas rosas de variados matizes que enfeitavam o jardim.

O avô, satisfeito por tê-la ajudado a superar o momento de dor falou-lhe com afeto: - Veja, minha filha. A vida nos oferece sempre várias janelas.

Quando a paisagem de uma delas nos causa tristeza sem que possamos alterar o quadro, voltamo-nos para outra e certamente nos deparamos com uma paisagem diferente.

Tantos são os momentos de nossa existência, tantas as oportunidades de aprendizado que nos visitam no dia-a-dia que não vale a pena sofrer diante de quadros que não podemos alterar. São experiências valiosas da vida, das quais devemos tirar lições oportunas sem nos deixar tragar pelo desespero e revolta que só infelicitam e denotam a falta de confiança em Deus.

A nossa visão do mundo é muito limitada. Mas Deus tem sempre objetivos nobres e uma proposta de felicidade para nos aguardar após cada dificuldade superada.

Se hoje você está a observar um quadro desolador, lembre-se de que existem tantas outras janelas, com paisagens repletas de promessas de melhores dias. Não se permita contemplar a janela da dor. Aproveite a lição e siga em frente com ânimo e disposição.

Agindo assim, o gosto amargo do sofrimento logo cede lugar ao sabor agradável de viver e saber que Deus nos ampara em todos os momentos da nossa vida.

- Autor Desconhecido

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

É triste dizer Adeus

É triste dizer adeus, mas às vezes é necessário. Não podemos prender a nós definitivamente as pessoas que amamos para suprir nossa necessidade de afeto. O amor que ama, aprende a libertar.

Procuramos ganhar tempo para tudo na vida. Mas a vida, quando chega no próprio limite, despede-se e é esse último adeus que é difícil de compreender e, mais ainda, aceitar.

Possuímos um conceito errado do amor. Amar seria, no seu total significado, colocar a felicidade do outro acima de tudo, mas na realidade é a nossa felicidade que levamos em consideração. Queremos os que amamos perto de nós porque isso nos completa, nos deixa bem e seguros. E aceitar que nos deixem é a mais difícil de todas as coisas.

Não dizemos sempre que queremos partir antes de todos os que amamos? Isso é para evitar nosso próprio sofrimento, nossa própria desolação.

É o amor na sua forma egoísta.

Aceitar um adeus definitivo é uma luta. Se as perdas acontecem cedo demais ou de forma inesperada, o sentimento de desamparo é muito maior e a dor mais prolongada. É o incompreensível casando-se com o inaceitável e o tudo rasgando a alma. Essas dores poderão se acalmar, mas nunca se apagarão.

Mas quando a vida chega ao final depois de primaveras e primaveras e outonos e mais outonos, nada mais justo que o repouso e aceitar a partida é uma forma de dizer ao outro que o amamos, apesar da falta que vai fazer.

Não podemos prender as pessoas a nós para ter a oportunidade de dizer tudo o que queremos ou fazer tudo o que podemos por elas. De qualquer forma, depois que se forem, sempre nos perguntaremos se não poderíamos ter dito ou feito algo mais. Mas essas questões são inúteis.

O amor que ama integralmente não quer ver o outro sofrer e ele abre mão dos próprios sentimentos para que o destino se cumpra, para que a vida siga seu curso.

As dores do adeus são as mais profundas de todas. Mas elas também amenizam-se com o tempo e um dia, sem culpa, voltamos a sorrir, voltamos a abrir a janela e descobrimos novamente o arco-íris da vida.

Depois da tempestade descobrimos um dia novo e o sol brilha de maneira diferente. E talvez seja assim que aprendemos a dar valor à vida, aos que nos cercam; aprendemos a viver de forma a não ter arrependimentos depois e aproveitar ainda mais cada segundo vivido em companhia daqueles que nosso coração ama.

© Letícia Thompson

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A Ponte

Toda corrente de água desliza entre duas margens.
Margens que detêm e ordenam.
Que a impedem de invadir os campos.
Que lhe traçam um caminho.
Duas margens que permitem a essas águas formar um todo
e realizar sua tarefa:
“regar as planícies através das quais desliza.”
E as margens ficam distantes uma da outra…
Elas, porém, podem unir-se, aproximar-se, fundir-se quase,
quando sobre as águas se estende uma ponte.
Olhando a ponte sente-se a tarefa imensa
e ao mesmo tempo agradável, executada por ela.
Como um abraço amigo que aproxima duas separações.
Como um diálogo silencioso faz conversarem duas solidões.
Como a mão estendida fraterniza dois estranhos.
Se a ponte pudesse sentir, poderíamos, sem dúvida, qualificá-la de feliz.
Feliz por ser capaz de tornar o outro feliz.
E nunca se colhe felicidade maior do que quando
se semeia a felicidade.
A ponte tem, para cada um de nós, um profundo
e significativo simbolismo.
É a lição perene, silenciosa e rica, no dia-a-dia,
da sua missão de ligar e aproximar,
de encurtar distâncias, de separar abismos.
Diante de uma ponte nos ocorrem reflexões
que alguém escreveu:
“Em êxtase contemplativo olho a ponte, admiro a ponte,
escuto a linguagem da ponte…
…Sou forte, terrivelmente forte.
Resisto a tudo e permaneço sempre estática,
mas perseverante em meu posto de serviço.
O segredo da minha força?
De minha perseverança?
De minha grandeza?
Nasci para unir!
Vivo para unir!
Sirvo para unir!
Como gostaria de ser também uma ponte!
Para unir a terra aos céus!
Unir os desunidos…
Unir os desencontrados…
Unir os corações!!!
© Hugo Di Baggio